Todo cinéfilo que se preze sabe vários detalhes e
informações dos filmes que assiste. Personagens, atores, atrizes, diretores,
etc. E se diverte comparando vários filmes, listando atores que trabalham em
outros filmes, diretores de outros filmes, etc. Isso, de certa forma, tira um
pouco da graça, do “glamour” de um filme, a pessoa tem que fazer certo esforço
pra aceitar que o ator que interpreta um mafioso em um filme é o mesmo que
interpreta um alcoólatra fracassado em outro, e que na vida real é um
playboyzinho excêntrico que vive em baladas e festas.
Mas para o cinéfilo isso não importa, o importante é
conhecer o máximo possível todos os detalhes de um filme, para ele o “making
of” de um filme é tão ou mais importante que o próprio filme. Uma das maiores
alegrias para um cinéfilo é quando um diretor realiza um filme em que
homenageia outro filme, outro diretor ou atores, e coloca no filme referências
a essa homenagem. Em uma cena dentro de um quarto em um filme qualquer vemos na
parede um pôster de “Guerra nas Estrelas”. O cinéfilo diverte-se descobrindo
essas referências, citações e uma infinidade de detalhes.
Este é o caso desse livro. Ao que parece o autor Ronaldo
Cavalcante é um grande fã de muitos filmes e livros conhecidos e usou diversas
referências para criar sua ficção. E podemos listar inúmeras delas, é claro que
podemos estar enganados e só o autor poderá dizer com certeza sua fonte, mas
não tem como não nos lembrarmos de vários filmes e livros que conhecemos. Ao
mesmo tempo podemos perceber também que a referência pode ser a própria
realidade, a história que vivemos, e até uma crítica a essa história real.
A história do livro é o clássico da ficção científica, seres
interplanetários fantásticos, dotados da mais avançada tecnologia, invadem
nosso planeta com a intenção de destruí-lo, os terráqueos no caso, terão que
encontrar um meio de impedi-los, ou serão aniquilados e extintos. Temos aí a
metáfora, tão comum nesse tipo de ficção, relativa à realidade do nosso
planeta. Um povo que se diz soberano, superior aos demais, subjuga e coloniza,
na maioria das vezes por meio de guerras, outro povo considerado inferior, e se
apropria dos recursos que mais o interessam. Quantas vezes já não lemos essa
história nos livros escolares ou ainda vemos hoje em dia. Muitos povos antigos
foram extintos ou quase extintos depois da chegada de
colonizadores/exploradores que tinham o único interesse em se apoderar de suas
riquezas naturais. Ainda hoje vemos exemplos de países que estão sobre grandes
riquezas naturais (petróleo, pedras preciosas, minérios) e são explorados por
outros países ou até mesmo por seus próprios governos, deixando o povo na
penúria.
Sendo o autor nacional, temos boa parte da trama se
desenvolvendo no Brasil, e com a participação importantíssima do povo
tupiniquim. Mas como o problema da invasão é global, viajamos para várias
partes do globo, inclusive, como não poderia deixar de ser, a Casa Branca em
Washington. O livro é recheado de cenas de ação, definitivamente é para
apreciadores de "blockbusters" de ação. E é aí que entram as
referências. Temos cenas que lembram algumas situações dos livros e filmes de
“Harry Potter”, principalmente quando há um elemento da natureza em ação,
plantas, árvores, etc, aliás, um dos personagens principais do livro é a
natureza, o que nos lembra do filme “Avatar”. Uma das cenas remete ao segundo
filme dos "X-Men", onde Magneto tira o sangue de um dos guardas da
cela onde está preso, e forma bolinhas de metal usando o ferro presente no
sangue do guarda.
A leitura segue em um ritmo ágil, apesar da narração
detalhada das cenas de ação. As lutas entre os invasores e os terráqueos são
tão intensas que são minuciosamente detalhadas para que se entenda a situação
da batalha. O autor tem um grande conhecimento de materiais, elementos da
natureza, tecnologia, existente ou fictícia. Lugares, paisagens, sensações e
pessoas são exaustivamente descritas. Para alguns isso pode até cansar um
pouco, mas a riqueza de informações é grande. O humor não é constante, temos um
pouco dele com o personagem “William”, que por coincidência lembrou o
personagem “Comediante”, do filme “Watchmen”. Mas o engraçado foi o autor usar
em uma situação a palavra “tatibitati”, que muitos não devem conhecer. Rendeu
boas risadas.
Resta saber se deveremos usar nossa imaginação para criar
uma conclusão da trama, pois a sensação é de que haverá uma continuação. É
esperar pra ver. E ler. Nosso belo planeta azul, que se salvou de inúmeras
destruições em milhares de ficções será finalmente destruído? Esperamos que
não.